10 dezembro 2008

Poema de Natal

Para isso fomos feitos:
para lembrar e ser lembrados,
para chorar e fazer chorar,
para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
mãos para colher o que foi dado,
dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
uma estrela a se apagar na treva,
um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
falar baixo, pisar leve,
ver a noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço,
um verso, talvez, de amor,
uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
e que por ela os nossos corações
se deixem, graves e simples.

.Pois para isso fomos feitos:
para a esperança no milagre,
para a participação da poesia,
para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem;
da morte apenas
nascemos, imensamente....

Vinícius de Moraes

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